Para agilizar a liberação de recursos, o governo federal reconheceu calamidade pública em dezenas de cidades. A previsão é de mais chuva para os próximos dias.

 

Subiu para 41 o número de mortes provocadas pelos temporais no Rio Grande do Sul. Nesta quinta-feira (7), o governo federal reconheceu o estado de calamidade pública em 79 municípios. 

 

À medida que a água do Rio Taquari retorna ao leito e vai baixando lentamente, surge uma cidade tomada por bairros devastados. Em Muçum, prédios e casas se transformaram em ruínas. Nem o cemitério escapou da pior enchente que o pequeno município de quase 5 mil habitantes já enfrentou. Quase todo o comércio foi destruído. O que estava exposto para venda ou estocado nos depósitos foi perdido.

 

 

“Teve prejuízos com tudo: televisores, peças, equipamentos, aparelhos, estoques de peças. Tudo perdido, tudo. Perda total”, conta o comerciante Carlos André Baronio.

 

Os moradores contam que as ruas de Muçum foram tomadas por uma correnteza muito forte do Rio Taquari; não puderam salvar muita coisa. Casas foram completamente reviradas pela força da água, vários utensílios estão ainda dentro dos imóveis.

 

Aos 80 anos, o aposentado Domingos Toriane não tem mais casa para morar. Nesta quinta-feira (7), ele ficou desolado com o que viu.

 

“Aqui era a cozinha, parte material - daqui para lá era de material. Eu nunca vi uma desgraça igual”, lamenta.

A prefeitura ainda calcula os prejuízos e as equipes de resgate buscam desaparecidos. Há três dias, a consultora de vendas Samara Gabriela procura pela irmã e os sobrinhos.

 

“A gente ainda tem esperança de que eles estejam vivos. Muitas pessoas estão sendo resgatadas, foram. A gente quer que encontre vivo ainda. Meu sobrinho de 8 anos já sabia nadar, mas era só uma criança, né? Minha sobrinha de 7 meses a gente sabe que não sobreviveu, porque eles perderam ela, perderam na água. Mas minha irmã e meu sobrinho acredito que estão vivos ainda. A gente quer notícia. Mesmo se não encontrar com vida, a gente quer pelo menos o corpo delas”, diz Samara.

 

O único hospital da cidade ficou coberto de lama; todo o material de saúde foi perdido. Nesta quinta, bombeiros e voluntários vindos de todas as regiões do estado fizeram a limpeza do local. Já não há mais lama por lá. O serviço deve ser retomado na próxima segunda-feira (11). Por enquanto, pessoas que precisam de atendimento médico são encaminhadas para o município vizinho.

 

Perto dali, no município de Estrela, uma imagem chamou a atenção: arrastada pela enchente, uma vaca foi encontrada na manhã desta quinta-feira (7) em cima do telhado de uma casa.

 

Percorrendo as cidades atingidas o que mais se houve são relatos da noite trágica.

 

"Veio três ondas enormes aqui. Daí eu nadei aqui, tirei duas idosas que tinham ali e, quando eu cheguei em outra casa, não consegui mais. Cheguei perto e a mulher foi arrastada pela água. Não deu para segurar", emociona-se o pintor Paulo Schuck.

 

Para aliviar a tensão de quem está no local há três dias, voluntários se vestem de palhaços. O grupo é formado por estudantes e funcionários da Universidade do Vale do Taquari, que buscam sorrisos e distribuem abraços.

 

“As pessoas olham e sorriem, se sentem acolhidas, sentem o carinho. Esse é o nosso foco. É simplesmente levar acolhimento. Essa é a palavra”, afirma Marinês Rigo, coordenadora do projeto.

 

O Salão Paroquial da cidade de Roca Sales é um dos pontos que está centralizando as doações, que não param de chegar. Ao lado, outro pavilhão abriga toneladas da alimentos, milhares de litros de água e um mar de roupas para os mais de 10 mil abrigados.

 

No local, poucas famílias estão alojadas - muitas estão em casas de familiares ou foram levadas pela prefeitura para outros municípios vizinhos. Um casal que está por lá conseguiu salvar alguns pertences, mas a mulher contou que ficou mais de 15 horas em cima do telhado com os filhos e os pais. Um bebê de 2 meses está entre os abrigados.

 

Na noite desta quinta, muitos voluntários ainda trabalhavam, fazendo jantar para ser distribuído pela cidade.

 

Fonte:  https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2023/09/07/passa-de-40-o-numero-de-mortos-pelas-tempestades-no-rs-25-pessoas-estao-desaparecidas.ghtml